K9 e Aires Cossa incomodados com sucesso dos brasileiros em Moçambique

Brasileiros dominam palcos em Moçambique e geram debate sobre apoio à música nacional
O rapper moçambicano K9 voltou a chamar atenção ao partilhar no Facebook uma reflexão que rapidamente se tornou viral. O artista questionou o impacto dos cantores brasileiros de funk em Moçambique, destacando que, apesar de serem quase desconhecidos no país, conseguem encher salas de espetáculos e conquistar milhares de fãs.
Segundo K9, o problema não está nos artistas estrangeiros, mas sim no comportamento do público local. “O artista nacional não tem culpa de nada. A questão é que o público prefere apenas entretenimento rápido, sem dar o devido valor à música séria feita em Moçambique”, escreveu.
A reação de Aires Cossa
O apresentador Aires Cossa apoiou a posição do rapper, afirmando que também se surpreende com a popularidade imediata de cantores de fora. “Todos esses funkeiros que chegam de repente me fazem pensar ‘quem são eles?’. Mas quando vejo os shows lotados e o público a cantar todas as letras, fico sem palavras”, comentou.
Para Aires, existe uma clara contradição. Por um lado, a música nacional também está a ganhar mais espaço, com eventos locais cada vez mais concorridos. Por outro, artistas estrangeiros continuam a receber uma receção calorosa mesmo em cidades onde músicos moçambicanos raramente conseguem público expressivo.
Recuperação lenta do setor musical
Na mesma publicação, K9 acrescentou que há sinais de recuperação do mercado musical interno. Os promotores, que durante anos hesitaram em apostar em artistas nacionais, começam a reabrir espaço para concertos locais. No entanto, a comparação com o sucesso dos brasileiros continua a levantar preocupações.
“É impressionante ver um funkeiro brasileiro supostamente desconhecido encher casas de espetáculo em locais onde músicos de renome de Maputo mal conseguem chegar. Isto mostra que ainda há muito a fazer para fortalecer a cena musical nacional”, escreveu o rapper.
O público no centro da discussão
Este debate trouxe à tona uma questão recorrente: o papel do público na valorização da música feita em Moçambique. Muitos comentadores concordam que, enquanto a audiência continuar a privilegiar artistas internacionais, os músicos locais terão dificuldade em alcançar o reconhecimento que merecem.
A escolha dos fãs molda o mercado. Se há procura por funk brasileiro, os promotores naturalmente irão trazer mais nomes desse estilo. Por outro lado, se os moçambicanos exigirem mais investimento em artistas nacionais, o cenário pode mudar.
Oportunidade ou ameaça?
Apesar das críticas, alguns observadores consideram que a presença de artistas estrangeiros pode representar também uma oportunidade. A competição pode servir como incentivo para que os músicos moçambicanos invistam ainda mais na sua arte, profissionalizem a sua imagem e encontrem formas inovadoras de chegar ao público.
No entanto, é inegável que existe um certo desequilíbrio. Enquanto um funkeiro do Brasil pode conquistar o público moçambicano em poucos dias, muitos artistas locais passam anos a lutar por espaço e reconhecimento.
Caminhos para valorizar a música nacional
Especialistas defendem que a solução passa por três eixos principais: mais investimento por parte dos promotores em shows nacionais, maior apoio das rádios e televisões locais à música moçambicana e, sobretudo, uma mudança de mentalidade do público.
Se o público valorizar os artistas locais da mesma forma que celebra os estrangeiros, Moçambique terá condições de projetar os seus músicos não apenas dentro do país, mas também no cenário internacional.